Crítica | Star Wars: A Ascenção de Skywalker (2019)


- De: J.J. Abrams
- Com: Daisy Ridley, Adam Driver, John Boyega
- 2h35min
O final da saga Skywalker marca o final da primeira trilogia de Star Wars sob a alçada da Disney. As personagens introduzidas desde a Ascenção da Força vêm assim a sua narrativa concluída e aprixma-se o final da rebelião contra a ameaça da Primeira Ordem. Rey, Finn, Kylo Ren e Poe são os símbolos desta nova geração do mundo de George Lucas, que vista por alguém que nunca sentiu um grande afecto por Star Wars em miúdo parece um pouco desnecessária. Ainda antes de entrar na sala, já as primeiras críticas anteviam um filme divisivo e abatabalhoado. Já esperava algo ao nível da Ameaça Fantasma, já só queria um Jar Jar Binks para animar a minha noite. Afinal de contas, olhando bem para a forma como toda a trilogia foi trabalhada, a forma incoerente como J.J. Abrams e Rian Johnson nos apresentaram as suas visões, seria complicado apresentar uma conclusão fantástica. Quando os créditos finais começaram, fiquei incrédulo não só por ver as minhas expectativas cumpridas, mas porque todo o filme parece uma obra de marketing bem executada que podia facilmente ter sido apresentada como o resumo do ano nos Globos de Ouro.
Para os que não procuram spoilers, o TL:DR da crítica é simples, Star Wars: A Ascensão de Skywalker é o espelho da ambição desmedida de uma produtora que comprou os direitos de um dos universos da cultura pop mais importantes da história do cinema, é o resultado de uma reunião de executivos sentados à mesa a discutirem ideias para agradar aos fãs e é o culminar da visão de J.J. Abrams que ignora por completo a história que Rian Johnson nos contou no oitavo episódio, procurando apenas entregar uma dose de fan service e nostalgia sem nada para acrescentar. Fica aqui uma fotografia da melhor parte de todo o filme, Babu Frik (Quero um spin-off sobre a origem deste amigo!).

Agora discutindo um pouco os problemas do filme, há na grande maioria destes uma origem em comum que é o desfasamento de opiniões de Rian Johnson e J.J. Abrams. Podemos começar pela origem de Rey que tão depressa era filha de ninguém como de repente descobre que é uma Targeryen, ou melhor dizendo neta do Imperador Palpatine, que afinal de contas estava vivo e esteve fora de cena durante todos estes anos a deambular no seu planeta como Lord Voldemort e que construiu entretanto uma frota imensa de naves com um poder destrutivo idêntico ao da Estrela da Morte. Temos também a falta de conclusões ao nível de personagens secundárias e ainda a reviravolta abruta do General Hux ser um espião traidor na Primeira Ordem, que acabou tão depressa como começou. E talvez o meu maior conflito com a narrativa de J.J. Abrams, a falta de coragem para provocar alguma emoção ao longo do filme, o que me levou a dar alguns bocejos ao longo da história, até porque à custa disto nunca existe uma noção de risco nem de perigo, e também porque por alguma razão as personagens acabam sempre nos lugares certos a hora certa.
Outro resultado da reunião da executivos da Disney parece ter sido a duração do filme, ou pelo menos a forma como todas as aventuras foram comprimidas, o que deixa no ar uma de duas hipóteses: ou foi decidido não haver tempo para explorar detalhes nas ramificações da história que vão surgindo ou então estes momentos são apenas fillers para complementar o fan service que se resumiu ao regresso de personagens já conhecidas para cultivar uma nostalgia que permanece ao longo de todo o filme. Até mesmo para o desfecho da história, há uma série de elementos que nos trazem à memória enredos já conhecidos, alguns deste ano, que parecem ter sido aqui reusados porque funcionaram no passado. Na batalha final, quando Palpatine confronta Rey e Ben, a imensa frota de naves é desafiada pelo aparecimento dos Avengers, num momento que faz lembrar a batalha final de Avengers: Endgame. E depois temos o combate entre o Imperador e a neta, que foi um pouco da batalha final de Harry Potter e um pouco de Game of Thrones quando a Arya matou o Night King.

A forma como este enredo se mistura com os múltiplos cameos e referências no universo é o espelho desta ambição de criar algo que siga a fórmula habitual, o que acaba por parecer divisivo face ao desfasamento nas visões de Johnson e Abrams, e demsiado corporate made porque o resultado final parece uma compilação de elementos nostálgicos para agradar aos fãs. De modo geral, a falta de consequências faz com que a história seja um pouco pão sem sal, e acaba por cair nalguns dos erros do primeiro filme da trilogia. Há no entanto uma série de coisas boas a falar sobre este filme, a começar pela banda sonora incrível de John Williams, que representa o melhor uso de elementos nostálgicos no filme, e que complementa na perfeição a fotografia do filme, que mais uma vez é um dos pontos de destaque. A nível de personagens, Poe parece ser a personagem mais trabalhada no filme ou pelo menos aquela que sofre menos com as decsiões narrativas. Rey parece uma heroína algo forçada, olhando para a forma como de repente a jovem usa a força e Finn parece que ficou um pouco esquecido ao longo do filme. A única coisa que a narrativa não conseguiu afectar (e ainda bem), foi uma personagem inesperada e memorável que surgiu e conquistou de imediato, Babu Frik, um mestre em reprogramar droides, com um riso e uma presença contagiantes.
Tudo isto acabou por se traduzir num episódio esquecível e de certa forma aborrecido, que não pode ser levado a sério enquanto é visto. É um filme que mais parece uma enorme jogada de Marketing, que procura conquistar os fãs através de elementos nostálgicos e de decisões que trazem ao de cima referências ao próprio universo de Star Wars e a tantos outros filmes. É o resultado esperado, face às incoerências nas visões e estilos de Rian Johnson e J.J. Abrams, um daqueles casos em que o entretenimento se sobrepôs à história, o que parece pouco apropriado para o final de uma saga num universo tão rico em detalhes como é Star Wars. Agora permanece a incerteza sobre o que a Disney vai conseguir entregar nos próximos filmes, mas desde que haja Babu Frik podem contar comigo!