Crítica | A Torre Negra (2017)

- De: Nikolaj Arcel
- Com: Idris Elba, Matthew McConaughey, Tom Taylor
- 1h35min
Tendo algum conhecimento do amplo universo de The Dark Tower encarei com algum entusiasmo a notícia de uma adaptação ao cinema da obra de Stephen King. O elenco composto por Idris Elba e Matthew McConaughey parecia também ter o seu quê de promissor e a história fantástica composta por 8 volumes parecia ter conteúdo para um grande universo cinematográfico. Ora com as notícias, comentários e críticas mais recentes e ainda a aparente aprovação do autor Stephen King muitas das expectativas foram-se convertendo em desânimo e reticências. Depois da minha introdução ao universo com a leitura do primeiro livro, O Pistoleiro, devo dizer que não esperava uma tarefa simples dada a complexidade das personagens, o cenário e toda a narrativa e universo que levam o seu tempo a enraizar.
Para os que desconhecem a base da narrativa, existe uma Torre, a dita cuja Torre Negra, que promove o equilíbrio de todos os mundos e nos protege de demónios e ameaças desconhecidas. Esta Torre é protegida por toda uma linhagem de Pistoleiros, míticos heróis com habilidades e motivações nobres cujo legado viaja por todo o lado em que vagueiam. Com o passar dos tempos, um homem temível, misterioso, cruel e absolutamente dantesco, conhecido por todos como Homem de Negro (Matthew McConaughey), tira partido dos seus poderes e da sua magia negra para destruir a Torre, colocando assim em perigo a vida de todos no Universo. O plano maléfico tem como obstáculo principal o único pistoleiro sobrevivente da tirania e magia do Homem de Negro, Roland, interpretado por Idris Elba. O cruzamento de todos estes mundos com o nosso é feito por intermédio de Jake (Tom Taylor), um rapaz que tem vindo a ter visões de um apocalipse iminente. Com o Universo como plano de fundo e as vidas de inocentes em risco, é neste confronto intenso de personagens míticas que a história de A Torre Negra se centra.
Com quase uma mão cheia de argumentistas e um desenvolvimento/produção apressado, não é difícil prever o que correu mal para ter gerado um desagrado tão acentuado entre os fãs. De facto esta visão foge um pouco do simbolismo, da misticidade e da fantasia de Stephen King, tornando-se num produto de entretenimento comercial e banal que é facilmente esquecível. O Homem de Negro e o Pistoleiro, personagens míticas da obra de Stephen King, com um desenvolvimento e uma personalidade emotivas são aqui talvez o ponto mais positivo e o destaque do filme, ainda que estejam aquém da representação mais calculada, complexa e aprofundada de King. A tirania do Homem de Negro e a bravura e o desejo enorme de vingança de Roland são os lados de uma batalha que prometia ser épica mas que acaba por ser traduzida em batalhas apressadas, com sequências exageradas, e piadas/citações demasiado carismáticas por parte de McConaughey para o tom negro, obscuro e misterioso que a sua personagem deveria carregar. A curta duração do filme parece, no entanto, ideal, sobretudo para a forma como a narrativa se desenvolve, sempre de forma apressada, sem dar tempo para absorver o que quer que seja. Uma autêntica apresentação desprovida de reflexões em que o confronto entre o bem e o mal perde o impacto com o exagero e o carácter mais comercial da história.
Os pesadelos de Jake e as visões deste dão origem a um enredo secundário que vai gerando interesse e potencial mas que nunca é desenvolvido com a atenção merecida, à medida que a tensão entre este a mãe e o Padrasto cresce e à medida em que as pessoas que o rodeiam o olham com desconfiança e pena. O maior problema é sobretudo a forma como está tudo empilhado no filme, havendo facilmente conteúdo para uma história com um ritmo mais progressivo e mais emotiva e cativante. As sequências de acção e os efeitos visuais são muitas vezes exagerados e desleixados, as personagens carecem de um desenvolvimento merecido e fica por vezes a ideia de que não é possível sentir empatia ou o que quer que seja pelas personagens. Idris Elba faz o melhor que consegue, procurando criar um herói de certa forma memorável mas a história não tem potencial suficiente para suscitar o interesse e agarrar o espetador. De certo modo, A Torre Negra não é de todo tão mau como tem vindo a ser pintada… A história é funcional como produto de entretenimento e as interpretações do elenco principal são agradáveis, notando-se um claro esforço de Elba e McConaughey para que a relação e as suas personalidades se tornem o mais emotivas possíveis. Fica, no entanto, aquém das expectativas face ao universo em que se insere, não suscitando interesse nem curiosidade para futuros capítulos. É um filme banal, que cai no esquecimento e que não é de forma alguma a adaptação merecida do universo mítico de Stephen King.