Crítica | Ready or Not – O Ritual (2019)

- De: Matt Bettinelli-Olpin, Tyler Gillett
- Com: Samara Weaving, Adam Brody, Mark O’Brien
- 1h 35min
Ready or Not – O Ritual é um filme divertido e exagerado que dá um toque meio tresloucado e mórbido à premissa da jovem que vem conhecer os sogros. É um jogo mortal das escondidas, com um ar de Cluedo, com personagens invulgares e uma envolvente misteriosa e excêntrica, que dão ao filme uma imersividade eficaz.
★★★½
Tudo o que Grace (Samara Weaving) queria era uma família… O sonho de uma vida consumado num casamento com Alex (Mark O’ Brien), o bom samaritano da histórica família Le Domas, donos de um império construído à volta do desporto e dos jogos de tabuleiro. A extravagância e a riqueza da família Le Domas envolvem toda uma enorma mansão, repleta de jogos, passagens secretas e dezenas de quartos e divisões. À partida, parece uma espécie de Cluedo, a família junta-se toda a mesa depois do casamento para cumprir uma tradição de longa data e acolher Grace na família. E que tradição é esta? Pois bem, tudo o que Grace tem de fazer é jogar um jogo. Infelizmente, a sorte determinou um jogo das escondidas. As regras são simples, a família conta até cem, Grace foge e esconde-se, e se for encontrada é morta. Uma espécie de ritual diabólico que se justifica pelas personalidades treslocadas da família Le Domas.
“Ready or Not – O Ritual” é uma espécie de Cluedo diabólico, tresloucado e exagerado, que está carregao de humor negro. E é isto mesmo que me faz gostar do filme. Há algo genial na forma como toda esta locura se alia a uma temática peculiar. Sim, é no fim de contas um jogo mortal das escondidas, e para os que procuram algo mais do que isto em termos de enredo não há muito mais. Afinal de contas, são as personagens que tornam o filme num espetáculo delirante que sabe tirar partido e gozar com as circunstâncias, ao mesmo tempo que é dado o enfâse necessário nos momentos mais intensos. A família Le Domas é apresentada como um conjunto de ricaços loucos que andam pelos corredores da própria mansão a revirar tudo do avesso para tentar matar Grace com armas arcaicas (espingardas, bestas, arcos e flechas). Portanto, há um pouco de slasher, um pouco de família disfuncional, e um jogo bastante imersivo, na medida em que graças ao trabalho de Samara Weaving, dei por mim a torcer bastante efusivamente pela pobre rapariga durante o filme.
Samara Weaving, um nome relativamente desconhecido, que esteve em destaque numa espécie de Teen Horror da Netflix, “The Babysitter”, já tinha mostrado neste filme carisma para o género, mas aqui o seu ar mais inocente e encantado contribuí para tornar toda o jogo ainda mais doentio. Há momentos caricatos que tão drepressa têm piada, como de reprente nos colam à cadeira. Há também um pouco de ironia, que transparece ao longo do filme, quer seja por desfechos inesperados e caricatos, quer seja por confrontos entre personagens, e não posso deixar de destacar a subtileza do tom ligeiro do humor negro, deixando bem clara a ideia de que isto não é mais uma horror comedy.
São as personagens peculiares e a premissa que tornam o filme cativante, e a interpretação de Samara Weaving é aqui o maior destaque, com uma protagonista que é uma espécie de heroína face às circunstânticas. No fim de contas, é toda esta experiência exagerada e imersiva que me faz gostar de “Ready or Not – O Ritual”, um filme divertido, com momentos loucos e desmedidos mas que o usa o exagero e o potencial da temática de forma eficaz e apelativa.