Crítica / MOTELX | Extra Ordinary (2019)

Crítica / MOTELX | Extra Ordinary (2019)

“Extra Ordinary” é uma comédia surreal vinda da Irlanda, que nos conta a história de Rose, uma instrutura de condução com dons que lhe permitem comunicar com entidades espíritas.

★★★★

“Extra Ordinary” é uma comédia surreal vinda da Irlanda, que nos conta a história de Rose, uma instrutura de condução com dons que lhe permitem comunicar com entidades espíritas. A forma mais complicada como a vida a tem tratado nos últimos tempos, leva-a a assumir uma relação muito desanimadora com os seus talentos sobrenaturais, um pouco à custa dos estranhos pedidos que vai recebendo no dia-a-dia. Nesta realidade, os fenómenos sobrenaturais manifestam-se de forma quase imperceptível, assumindo-se em objectos inanimados como fios de telefone. O quotidiano adquire assim um carácter especial, sobretudo pela forma mais ou menos realista como é apresentado. Tudo parece estar a correr como sempre, os dias não apresentam nada de novo, Rose continua a receber os mesmos pedidos de ajuda de locais para ver o que se passa com algum detalhe mais bizarro nas suas vidas, até que uma estrela de rock abatida chega à cidade para conquistar mais fãs, depois do seu êxito de há muitos anos. Como é que este êxito é conseguido? À custa de um pacto com o diabo, que requer um sacríficio.

Rose, confrontada com um pedido de ajuda mais invulgar de um pai completamente destroçado que vê a sua filha em perigo e a levitar, decide enfrentar os seus receios e voltar a tirar partido dos seus dons para salvar a vida da jovem. As semelhanças com a realidade e o humor ocasional dão um ar de graça a “Extra Ordinary”, que parece uma comédia britânica à lá Monty Python, ao mesmo tempo que brinca com elementos do sobrenatural de forma muito súbtil. O humor é ligeiro e inteligente, e sobressai tanto em referências e piadas, como em momentos absolutamente deliciosos. Diria que é provavelmente a comédia mais interessante do ano, até à data, talvez pelo tom satírico e surreal. O enredo em si tem piada pelo carácter bizarro, e o vilão adequa-se na perfeição ao tom do filme, sobretudo com o contributo da interpretação de Will Forte. E é fascinante a forma como todas as subtilezas do filme nos conduzem a um final irreverente e surreal, oferecendo um filme divertido e original que sabe conjugar o humor e tom bizarro da história de forma mutio apelativa. 

Diria que de modo geral, o que funciona menos bem na história é mesmo a falta de ligação com as personagens, que parecem meros acessórios do enredo, e que só estão presentes para cumprir um propósito. O filme não trabalha de forma suficiente esta componente, o que me levou por vezes a sentir-me menos cativado e agarrado ao ecrã. No final, apesar destes pontos menos favoráveis, o filme de Mike Ahern e de Enda Loughman deixou-me rendido, e com vontade de o revisitar mais tarde, sobretudo pela forma tão peculiar como o filme adquire um tom surreal e satírico, tornando-se numa comédia deliciosa que é sem dúvida uma das surpresas do ano.



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