Crítica | LEGO Batman: O Filme (2017)

- De: Chris McKay
- Com: Will Arnett, Michael Cera, Rosario Dawson
- 1h44min
Este é um Batman mais egocêntrico, mais exagerado e divertido que satiriza as referências menos boas e tira partido das melhores representações do homem morcego, resultando numa abordagem diferente e mais sensacional do super-herói. As piadas são uma constante, algumas deliciosas outras apenas nostálgicas e tudo isto funciona em harmonia com um Will Arnett próximo das suas interpretações mais memoráveis. Dei por mim a ver um pouco de Gob de Arrested Development e um pouco de BoJack na personalidade irreverente e descontraída deste Batman, um pouco centrado em si, empenhado em se afastar dos seus medos e problemas e confrontado com uma série de desafios aqui explorados para tirar partido de uma atmosfera mais infantil.
Para um universo com origem na história de Phil Lord e Chris Miller, este LEGO Batman de Chris McKay está assente numa visão mais original da personagem que tivemos o prazer de conhecer no predecessor. A personalidade mais descontraída, cool e egocêntrica é o que distingue este Batman das características mais pesadas e da envolvente mais obscura que ultimamente têm sido típicas nos filmes de herói. Vê-se aqui talvez potencial para todo um universo cinematográfico de super-heróis, talvez mais completo e sem sombra de dúvidas agradável do que o universo da DC que continua num limbo à procura do sucesso. A história aqui acaba por nem ser nuclear a partir do instante em que nos vemos envolvidos por referências atrás de referências, personagens icónicas e piadas curtas que cultivam alguma curiosidade e um sentimento de nostalgia para um público mais graúdo.
Numa primeira observação, LEGO Batman não será um filme óbvio para os mais pequenos, que ficarão empolgados com as sequências visuais alucinantes, o tom cómico do filme e um herói que foi desde sempre adorado pelo público em geral, mas que provavelmente se sentirão à margem da experiência completa, com referências passadas ao lado e algumas piadas e elementos mais direcionados a um público mais crescido (não pelo conteúdo em si, mas pela sua origem). É a descontração de Arnett, combinada com o “só quero saber de mim” e as peripécias nas relações com Joker e Robin que tornam este filme numa visão mais pessoal, exagerada e irreverente do herói. Em pequenos instantes vemos uma chuva de vilões de origens tão distintas, uma série de heróis conhecidos por todos e o nascer de toda uma relação super-herói/ajudante com o aparecimento de um miúdo órfão que ao vestir um fato apelidado como Reagge Man se torna no Robin que tem ficado de fora nas últimas aparições do homem-morcego.
Logo nos primeiros minutos somos convidados a assistir a um curto monólogo de abertura por Will Aarnett que serve de introdução perfeita ao ambiente de todo o filme, numa tentativa propositada de satirizar os blockbusters e os clichés do género que cai ao mesmo tempo na categoria, seguindo-se pouco mais de hora e meia de piadas que surgem tão naturalmente que é impossível não passar o filme sem umas valentes gargalhadas. São estas piadas aliadas a uma banda sonora de êxitos e também de referências que dão a este filme o seu carácter mais original e apelativo, tornando-o numa deliciosa comédia para os fãs do super-herói, com todos os elementos de um filme do género.
O grande elenco, com nomes conhecidos no mundo da comédia, gira à volta do reencontro entre Michael Cera e Will Arnett, mas também tira partido de vozes familiares procurando estabelecer o mais cedo possível uma relação com o espetador. LEGO Batman é eficaz, divertido e apelativo a um público mais geral, tirando partido do carisma e irreverência de Arnett numa visão do super-herói que lhe é muito próxima. Um ritmo frenético e divertido que não perde gás durante todo o filme abre as portas para todo um universo de possibilidades com mais heróis neste ambiente mais animado. As piadas, a sátira e as referências a tantos momentos como é o caso da mítica dança de Adam West ou outros tantos momentos icónicos de outros filmes são elementos aqui cruciais para que tudo funcione, face a uma história que não se destaca tanto no fim de contas. Ao cair do pano, um branco a contrastar com a abertura em negro, dei por mim a torcer por este Batman que recupera o carisma irreverente de Arnett e tira partido deste para um filme de super-heróis deliciosamente divertido.