MOTELX 2016 | Entrevista "Que é Feito dos Dias na Cave" com Rafael Almeida
Rafael Almeida, o realizador de Que é Feito dos Dias na Cave já esteve nomeado para o Prémio de Melhor Curta Portuguesa do MOTELX com a curta-metragem Demência, sobre um rapaz confinado a um ambiente claustrofóbico que vai perdendo aos poucos a sua sanidade mental. Regressa este ano com uma curta sequencial e empolgante, em que a sanidade mental é a base para um incrível plano de fuga que deixa o espetador colado ao ecrã.
De onde surgiu o conceito e a ideia para o filme?
O conceito de Que é Feito dos Dias na Cave surgiu da ideia da filmar a fuga de um paciente de um hospital psiquiátrico, atravéns de um ponto de vista diferente, um amigo imaginário da personagem principal que o acompanha e com o qual interage. E este amigo imaginário é o próprio espetador. Este é o conceito base que se vê ao longo do filme e é engraçado quebrar esta parede que existe entre as personagens e o espetador, permitindo que este acompanhe a fuga da personagem, estando ele próprio presente na história. Seguiu-se então processo de escrita, por parte de Tiago Primitivo, o argumentista do filme.
Como foi filmar num hospital psiquiátrico e a criação dos cenários?
Não foi fácil conseguir autorização para filmar no Mosteiro de Lorvão. Foram precisos cerca de 5 meses para conseguir o local, em trocas de e-mails com o Centro Hospitalar da Universidade de Coimbra. O Mosteiro foi um hospital psiquiátrico até 2012 e, após o fecho, o recheio foi retirado do edifiício, deixando algumas das coisas num armazém à parte. Foi desse armazém que surgiram muitos dos elementos dos cenários, num processo longo onde tivemos de ir levar coisas do armazém para o mosteiro e comprar o que faltava para complementar o cenário. Foi uma aventura enorme.
A nível de castings e de equipa, costumas trabalhar com pessoa que conheces e em quem confias ou neste caso o processo foi mais complicado?
Foram feitos 3 castings e cerca de metade dos figurantes são do Lorvão, enquanto que a outra metade é da minha terra, Figueiró dos Vinhos. São pessoas que vieram e que nos ajudaram e foi tudo muito bom. Tivemos cerca de 50 figurantes e, ao todo, eramos uma grande equipa (cerca de 75 elementos). Foi uma aventura incrível estar no mosteiro com toda a equipa e uma experiência muito engraçada.
A tua curta anterior, Demência, retratava também o estranho e perturbador tópico da sanidade mental e contou com o mesmo actor principal, João Sério. Existe algo em comum ou uma relação entre as duas histórias?
Entre os dois filmes não existe uma relação, apesar de ambos tratarem o tema da sanidade mental e do facto de terem o João Sério como actor principal. Existem elementos em comum, como a sensação de claustrofobia, sendo que um tem lugar em casa e o outro num hospital psiquiátrico. Demência foi um filme experimental mas ambos podem ser descritos como uma luta psicológica das personagens.
A nível de projectos futuros, alguma coisa em mente?
Vamos começar a filmar uma curta-metragem, num género diferente, mais cómico. Uma comédia meta-linguística totalmente diferente sobre um fim de uma relação e um rapaz que tenta encontrar o guionista do próprio filme para ficar com a rapariga. Para além desta curta, tenho também mais um projecto de Terror, já em fase de pós-produção, que planeio lançar em breve.
Um dos aspectos mais fascinantes de Que é Feito dos Dias na Cave é o plano sequencial. Como foi o processo de criação deste plano? E foi tudo filmado em one shot?
Ao todo foram 8 meses de produção. Sendo que para coordenação e ensaios de câmara e luz foram precisas 4 semanas. Apenas os fiurantes foram coordenados no dia das filmagens. A nível do plano sequencial, existem alguns cortes, uns mais fáceis de encontrar, sobretudo aqueles em que existe um plano mais escuro e negro. Foi um processo muito interessante definir onde seria mais apropriado fazer os cortes para dar uma melhor ideia de sequência e fico feliz com o resultado final.
Este foi um projecto final de curso?
Que é Feito dos Dias na Cave foi um projecto final de licenciatura da Unversidade da Beira Interior, no qual foi também associada uma campanha de crowdfunding para aumentar o nível projecto.
A análise de Que é Feito dos Dias na Cave pode ser encontrada aqui.