Crítica | Dois Papas (2019)

Crítica | Dois Papas (2019)
The Two Popes - Poster
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  • De: Fernando Meirelles
  • Com: Anthony Hopkins, Jonathan Pryce, Juan Minujín
  • 2h5min

Conhecendo um pouco da obra de Fernando Meirelles e depois de ver fotografias do filme em que Anthony Hopkins veste a pele do Papa Bento XVI, Joseph Ratzinger, a curiosidade levou-me a querer conhecer melhor a história de “Dois Papas”. O filme retrata um encontro entre Bento XVI e o cardeal Jorge Bergoglio, antes de se tornar no Papa Francisco, para definir a igreja católica dos dias de hoje… Uma descrição algo simplista para um filme que acaba por expor de forma tão detalhada e humana as duas personagens, que logo no início se apresentam como completos opostos em termos de ideologias e mentalidade, mas que através da sua devoção procuram uma forma de chegar a um consenso sobre o futuro da igreja num período crítico para esta, que ameaçava a sua presença na sociedade pelo mundo fora.

The Two Popes Still

As interpretações de Hopkins e de Jonathan Pryce são aquilo que define o próprio filme, com uma dedicação enorme em transmitir as motivações e a devoção dos dois homens que represntam. A forma como os dois actores exploram as imperfeições das personagens e a forma como estas tiraram partido da sua fé e devoção é uma expressão clara do talento de ambos. Por intermédio de um diálogo amistoso e ao mesmo tempo com uma boa dose de conflito derivado pelas divergências em tópicos fundamentais para a igreja, a relação entre as duas personagens floresce de forma cativante. Meirelles consegue de uma forma muito peculiar contar uma história capaz de cultivar alguma admiração e carinho por parte do espectador, pela mensagem que a história carrega e, pela forma como no seio da Igreja, o homem mais importante da instituição e um cardeal com uma visão mais progressiva da Igreja e com um desejo em pedir a reforma, discutem a sua visão, apoiados nos seus passados complicados e na forma como a sua devoção os levou a crescer. É certo que o ritmo lento e o foco da história no diálogo entre as duas personagens pode afastar certas pessoas do filme, mas é surpreendente a forma como Fernando Meirelles trabalha a amizade e a relação entre estas duas pessoas.

“Dois Papas” é um filme importante e desafiante, pela forma como trabalha temáticas tão complicadas de uma forma tão simplista e agradável de se ver. Temáticas como a vulnerabilidade do homem, a interligação entre a religião e a política e a forma polémica como a Igreja lida com os seus próprios escândalos… O facto de toda esta discussão acontecer no seio da instituição cultiva uma ideia de secretismo que parece ter sido primordial para o sucesso da relação entre os dois homens. Isto porque a forma como o debate entre a visão mais progressiva e a visão mais conservadora vive através da discussão de dois homens com ideais tão diferentes mas que ao longo da sua vida aprenderam a tirar partido da fé e devoção para saberem perdoar e crescer, parece ser um dos aspectos mais importantes para a definição da instituição nos dias de hoje. Saber ouvir e perdoar torna-se assim parte fundamental da história que Meirelles conta, uma narrativa que vive através de duas personagens cativantes, fruto de duas grandes interpretações de Hopkins e Pryce. Até porque mais do que uma história sobre a Igreja dos dias de hoje, e mais do que um filme biográfico, a história que Meirelles nos conta é a de dois homens, que juntos, através do diálogo e do debate de ideias, conseguiram construir uma relação de amizade e compreensão e encontrar assim a melhor versão deles próprios.



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